sábado, 16 de junho de 2018

Argumentos a favor do aborto


"O feto humano é um mero conjunto ou punhado de células"

Conjunto ou punhado é qualquer amontoado de elementos, independente da ordem que os articula. 
O que define o nascituro não é ter células, mas tê-las ordenadas e articuladas numa forma definida e específica, que é a forma do ser humano, inconfundível e única entre todas as espécies animais.

Forma não é aparência exterior, é articulação interna, é ordem constitutiva, é princípio de unidade e funcionamento. 
Os Lusíadas e a Lista Telefônica têm ambos o formato de livros. Diferenciam-se é pela sua forma, pela ordem e conexão interna das palavras que os compõem. A estátua de um ser humano tem formato, mas não forma intrínseca de ser humano, isto é, aptidão para crescer e funcionar como um ser humano. O feto, induscutivelmente, tem. Por isso os que não desejam vê-lo como um ser humano precisam fingir que não enxergam essa forma, e recorrem, para tanto, ao expediente de carimbá-la como “conjunto” ou “punhado”, expressões que designam precisamente o contrário, isto é, os elementos soltos e sem forma.


"esperma também é uma vida"







Um zigoto é a célula resultante da fecundação de um óvulo por um espermatozoide. Muitas vezes é afirmado por abortistas que um zigoto se encontra na mesma situação de um espermatozoide ou um óvulo, e que portanto uma vez o aborto sendo assassinato, a anticoncepção também o seria. Alega-se que, assim como um zigoto é uma vida humana em potencial, aqueles também seriam.

Mas o argumento é falho. O esperma não é vida em potencial, é vida em seu sentido pleno -- mas não é vida humana.
Ato e potência em Aristóteles
o ser é o que existe em ato e também o que existe em potência – isto é, o que pode vir a ser em ato. O ser pode, pois, possuir determinadas características em um momento e outras características diversas em um momento diferente. 
Ato e potência são apontados pelo filósofo como modos de ser divergentes e diferentes. Quando se diz que algo é em ato, diz-se que a coisa existe concretamente, existe em ato, diz-se que possui existência real.  Ao se dizer do ser enquanto potência, refere-se a algo que tem a capacidade de realizar sua existência, algo que tem a possibilidade de existir, embora não de modo necessário. Estes dois modos de ser prevalecem sobre todos os seres. O ser é tomado pelo filósofo como ato e/ou potência. É por essa concepção que se pode explicar a mudança das coisas: o pensamento de que as coisas deixam de ser ao mudarem é excluído por Aristóteles, já que, ao sofrerem as mudanças, o movimento a coisa passa de um modo de ser – potência – a outro modo de ser – ato.
Com relação ao ato e potência, o ser pode existir de três modos:
1. pode existir enquanto ato, mas não em potência;
2. pode existir enquanto ato e enquanto potência;
3. pode existir enquanto potência, embora não em ato. 
Estes modos de existir trazem várias implicações, como:
1. ao existir em ato, mas não em potência, o ser existe necessariamente, de modo que não pode ser diferente do que é;
2. ao existir em ato e em potência, o ser existe necessariamente, todavia pode se tornar outra coisa com relação ao que é atualmente;
3. ao existir como potência, mas não em ato, o ser existe enquanto possibilidade e, assim, não existe de modo necessário. 
Deve-se ressaltar que, segundo Aristóteles, o que existe em ato não possui dois contrários concomitantemente, enquanto o que existe em potência pode contê-los ao mesmo tempo. Neste ponto, podemos notar que Aristóteles estabelece a tese ontológica de não-contradição. Perscrutando um pouco mais a questão da potência comportar seu oposto, entende-se que o que tem a potência de existir, também tem a potência de não existir, como afirma Aristóteles: “Portanto, pode ocorrer que uma substância seja em potência para ser e que, todavia, não exista, e, também, que uma substância seja em potência para não ser e que, todavia, exista” (Met., IX(3), 1047 a 20-22).  
A existência em ato é considerada determinada pelo Estagirita e a existência em potência é tida como indeterminada, posto que a passagem de potência à ato pode ou não ocorrer. De potência, a coisa vai em direção ao ato, pois este é o fim visado pela coisa que está em potência. Assim, o ser só pode atualizar-se com a condição de haver nele a capacidade potencial para tal ato, seja externa ou interna.

Há uma enormdiferença entre células germinativas e um zigoto, a começar pelo fato de que um espermatozoide é gameta do pai e tem seu DNA (obviamente sem cromossomos homólogos por ser gameta), e um óvulo é gameta da mãe, com o DNA dela. Um zigoto não compartilha do DNA do pai ou da mãe, ele tem seu DNA herdado dos dois, mas próprio. Justamente por isso, não existe a possibilidade de igualar um zigoto humano a gametas humanos.

O espermatozóide, por si só, não tem a possibilidade de existir como ser humano, só quando fecunda o óvulo e estes dois organismos distintos formam um novo ser, com DNA próprio  -- este sim, um ser humano em potencial.


"Meu corpo, minhas regras"

1. As partes do corpo de um indivíduo compartilham o mesmo código genético. Se o zigoto/embrião/feto fosse parte do corpo da mãe, suas células teriam o mesmo código genético que as da mãe. Mas este não é o caso. Cada célula do corpo do feto é geneticamente distinta das células do corpo da mãe.

2. Os embriões humanos não são gerados independentemente pela mulher. Não devemos ver o feto como uma extensão do corpo da mulher porque não se originou apenas dela. O bebê não existiria sem a semente do homem.

3. Um zigoto chinês implantado em uma mulher negra será sempre chinês, porque sua identidade é baseada em seu código genético, e não na do corpo em que ele reside.

4. Sir Albert Liley (o "Pai da Fetologia") fez esta observação em um discurso de 1970, intitulado "O término da gravidez ou o extermínio do feto?"
Fisiologicamente, devemos aceitar que o concepto é, em grande medida, responsável pela gravidez [...] biologicamente, em nenhum momento podemos concordar com a visão de que o feto é um mero apêndice da mãe.

"Um tumor maligno também apresenta um DNA distinto" 

Um câncer tem DNA formado por corrupção do DNA de determinada célula; o zigoto é formado pela fusão de cromossomos homólogos de organismos distintos. Um zigoto é um humano em formação/potencial, o câncer não.


"O aborto é legítimo porque a criança depende da mãe para sua sobrevivência"

Este argumento não precisa ser limitado ao útero; ele pode facilmente ser estendido a crianças recém-nascidas e até mesmo a incapacitados e idosos.  Toda vez que uma linha arbitrária é traçada ela também pode ser aplicada a outras pessoas, principalmente os mais indefesos.



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