terça-feira, 19 de junho de 2018

Propriedade privada como princípio

Um princípio é assim chamado porque vem... no princípio! Não na continuação de alguma coisa. É um preceito fundante e não fundado, condicionante e não condicionado. Justamente porque não depende de mais nada, porque vale por si mesmo, é que um princípio tem de poder ser aplicado universalmente, sem modificações nem atenuantes, a todos os casos abrangidos no seu enunciado, sem que isso leve a nenhuma contradição lógica e muito menos a absurdidades reais. Sem essa propriedade, nenhum enunciado é um princípio.

“Não assassinarás”, por exemplo, é um princípio. Um indivíduo decidido a cumpri-lo deve segui-lo até às últimas conseqüências, abstendo-se de tirar a vida alheia em todos os casos e oportunidades, exceto nos quais o ato deliberado de tirar a vida de outra pessoa não pode ser classificado como assassinato -- em legítima defesa e na aplicação da pena de morte. É por esta razão que o ato de matar deliberadamente viola o princípio até mesmo em caso de defesa de propriedade quando não há risco à integridade física do propretário.  

A extensão indefinida das aplicações não modifica o sentido do princípio, que é princípio justamente por isso: por estar na extremidade inicial de uma série ilimitada de conseqüências sobre as quais ele impera com autoridade inabalável, absoluta.

Já as regras operacionais não instituem o seu próprio campo de aplicação: ele é demarcado por um número ilimitado de outras regras operacionais, algumas delas tácitas ou só descobertas ex post facto, bem como por um número também ilimitado de conveniências de ordem prática que podem intervir em cada caso. Toda regra operacional é por isso intrinsecamente deficiente e não pode ser aplicada senão com muitos atenuantes e modificações.

Um princípio vale por si, independentemente da variedade das situações. As regras operacionais, ao contrário, sempre se dispõem em sistemas e hierarquias compostos essencialmente de limitações mútuas (culminando, idealmente, num princípio que as limita a todas sem ser limitado por elas). Uma regra operacional que, desconhecendo seus limites internos e externos, busque estender indefinidamente seu campo de aplicação, acabará se chocando não só contra outras regras e contra as conveniências externas, mas contra si própria. “Agir no interesse próprio”, por exemplo, é uma regra operacional. Ela funciona em certas circunstâncias da vida, mas, se passar de um certo limite, jogando os interesses do indivíduo contra os de todos os demais, ele se tornará presa de uma situação de isolamento ou de hostilidade que não é do seu interesse de maneira alguma. A regra, para funcionar, tem de ser freada por um sem-número de outras considerações. Na verdade ela já vem com freio, porque os interesses de uma criatura limitada são eles próprios necessariamente limitados, no mínimo pela duração limitada da sua vida. Uma regra operacional erigida indevidamente em princípio leva necessariamente à sua própria negação.
E como fica a propriedade privada?

Ela não é, de maneira nenhuma, um princípio. É apenas uma regra operacional. 
Assim como a liberdade, o direito a propriedade limita a si próprio caso implementado de forma absoluta e sem restrições. Um exemplo é a idéia de "auto-propriedade", que é limitada quando o indivíduo se encontra na propriedade de terceiros.

Não existe “propriedade absoluta”, de vez que a propriedade é essencialmente um direito, portanto uma obrigação imposta a terceiros. O mero poder de uso de uma coisa não é propriedade, é posse. A propriedade só surge na relação social fundada pela “ordem”. O mero fato de que existam propriedades legítimas e ilegítimas mostra que a propriedade é dependente da ordem, portanto não é um princípio em si. 

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sábado, 16 de junho de 2018

Argumentos a favor do aborto


"O feto humano é um mero conjunto ou punhado de células"

Conjunto ou punhado é qualquer amontoado de elementos, independente da ordem que os articula. 
O que define o nascituro não é ter células, mas tê-las ordenadas e articuladas numa forma definida e específica, que é a forma do ser humano, inconfundível e única entre todas as espécies animais.

Forma não é aparência exterior, é articulação interna, é ordem constitutiva, é princípio de unidade e funcionamento. 
Os Lusíadas e a Lista Telefônica têm ambos o formato de livros. Diferenciam-se é pela sua forma, pela ordem e conexão interna das palavras que os compõem. A estátua de um ser humano tem formato, mas não forma intrínseca de ser humano, isto é, aptidão para crescer e funcionar como um ser humano. O feto, induscutivelmente, tem. Por isso os que não desejam vê-lo como um ser humano precisam fingir que não enxergam essa forma, e recorrem, para tanto, ao expediente de carimbá-la como “conjunto” ou “punhado”, expressões que designam precisamente o contrário, isto é, os elementos soltos e sem forma.


"esperma também é uma vida"







Um zigoto é a célula resultante da fecundação de um óvulo por um espermatozoide. Muitas vezes é afirmado por abortistas que um zigoto se encontra na mesma situação de um espermatozoide ou um óvulo, e que portanto uma vez o aborto sendo assassinato, a anticoncepção também o seria. Alega-se que, assim como um zigoto é uma vida humana em potencial, aqueles também seriam.

Mas o argumento é falho. O esperma não é vida em potencial, é vida em seu sentido pleno -- mas não é vida humana.
Ato e potência em Aristóteles
o ser é o que existe em ato e também o que existe em potência – isto é, o que pode vir a ser em ato. O ser pode, pois, possuir determinadas características em um momento e outras características diversas em um momento diferente. 
Ato e potência são apontados pelo filósofo como modos de ser divergentes e diferentes. Quando se diz que algo é em ato, diz-se que a coisa existe concretamente, existe em ato, diz-se que possui existência real.  Ao se dizer do ser enquanto potência, refere-se a algo que tem a capacidade de realizar sua existência, algo que tem a possibilidade de existir, embora não de modo necessário. Estes dois modos de ser prevalecem sobre todos os seres. O ser é tomado pelo filósofo como ato e/ou potência. É por essa concepção que se pode explicar a mudança das coisas: o pensamento de que as coisas deixam de ser ao mudarem é excluído por Aristóteles, já que, ao sofrerem as mudanças, o movimento a coisa passa de um modo de ser – potência – a outro modo de ser – ato.
Com relação ao ato e potência, o ser pode existir de três modos:
1. pode existir enquanto ato, mas não em potência;
2. pode existir enquanto ato e enquanto potência;
3. pode existir enquanto potência, embora não em ato. 
Estes modos de existir trazem várias implicações, como:
1. ao existir em ato, mas não em potência, o ser existe necessariamente, de modo que não pode ser diferente do que é;
2. ao existir em ato e em potência, o ser existe necessariamente, todavia pode se tornar outra coisa com relação ao que é atualmente;
3. ao existir como potência, mas não em ato, o ser existe enquanto possibilidade e, assim, não existe de modo necessário. 
Deve-se ressaltar que, segundo Aristóteles, o que existe em ato não possui dois contrários concomitantemente, enquanto o que existe em potência pode contê-los ao mesmo tempo. Neste ponto, podemos notar que Aristóteles estabelece a tese ontológica de não-contradição. Perscrutando um pouco mais a questão da potência comportar seu oposto, entende-se que o que tem a potência de existir, também tem a potência de não existir, como afirma Aristóteles: “Portanto, pode ocorrer que uma substância seja em potência para ser e que, todavia, não exista, e, também, que uma substância seja em potência para não ser e que, todavia, exista” (Met., IX(3), 1047 a 20-22).  
A existência em ato é considerada determinada pelo Estagirita e a existência em potência é tida como indeterminada, posto que a passagem de potência à ato pode ou não ocorrer. De potência, a coisa vai em direção ao ato, pois este é o fim visado pela coisa que está em potência. Assim, o ser só pode atualizar-se com a condição de haver nele a capacidade potencial para tal ato, seja externa ou interna.

Há uma enormdiferença entre células germinativas e um zigoto, a começar pelo fato de que um espermatozoide é gameta do pai e tem seu DNA (obviamente sem cromossomos homólogos por ser gameta), e um óvulo é gameta da mãe, com o DNA dela. Um zigoto não compartilha do DNA do pai ou da mãe, ele tem seu DNA herdado dos dois, mas próprio. Justamente por isso, não existe a possibilidade de igualar um zigoto humano a gametas humanos.

O espermatozóide, por si só, não tem a possibilidade de existir como ser humano, só quando fecunda o óvulo e estes dois organismos distintos formam um novo ser, com DNA próprio  -- este sim, um ser humano em potencial.


"Meu corpo, minhas regras"

1. As partes do corpo de um indivíduo compartilham o mesmo código genético. Se o zigoto/embrião/feto fosse parte do corpo da mãe, suas células teriam o mesmo código genético que as da mãe. Mas este não é o caso. Cada célula do corpo do feto é geneticamente distinta das células do corpo da mãe.

2. Os embriões humanos não são gerados independentemente pela mulher. Não devemos ver o feto como uma extensão do corpo da mulher porque não se originou apenas dela. O bebê não existiria sem a semente do homem.

3. Um zigoto chinês implantado em uma mulher negra será sempre chinês, porque sua identidade é baseada em seu código genético, e não na do corpo em que ele reside.

4. Sir Albert Liley (o "Pai da Fetologia") fez esta observação em um discurso de 1970, intitulado "O término da gravidez ou o extermínio do feto?"
Fisiologicamente, devemos aceitar que o concepto é, em grande medida, responsável pela gravidez [...] biologicamente, em nenhum momento podemos concordar com a visão de que o feto é um mero apêndice da mãe.

"Um tumor maligno também apresenta um DNA distinto" 

Um câncer tem DNA formado por corrupção do DNA de determinada célula; o zigoto é formado pela fusão de cromossomos homólogos de organismos distintos. Um zigoto é um humano em formação/potencial, o câncer não.


"O aborto é legítimo porque a criança depende da mãe para sua sobrevivência"

Este argumento não precisa ser limitado ao útero; ele pode facilmente ser estendido a crianças recém-nascidas e até mesmo a incapacitados e idosos.  Toda vez que uma linha arbitrária é traçada ela também pode ser aplicada a outras pessoas, principalmente os mais indefesos.



sexta-feira, 15 de junho de 2018

Primeiro-ministro da Síria: Trouxemos destruição sobre os refugiados árabes ao pedir que eles deixassem sua terra

Em 1973, o livro de memórias de Khaled al-Azm (خالد العظم), primeiro-ministro da Síria em 1948-1949, foi publicado em Beirute.

Trecho do seu livro de memórias que trata dos refugiados árabes da Palestina:
Nós trouxemos destruição para um milhão de refugiados árabes chamando-os e suplicando para que deixassem sua terra, suas casas, seu trabalho e negócios, e fizemos com que se tornassem improdutivos e desempregados, apesar de que eles tinham trabalho e eram qualificados para um tipo de comércio a partir do qual eles poderiam tirar seu sustento. Além disso, os deixamos acostumados a implorar por esmolas e a se contentar com o pouco que a organização das Nações Unidas lhes daria.  

quarta-feira, 13 de junho de 2018

A liberdade como princípio fundante

Um “princípio”, em filosofia, é uma afirmativa auto fundante e universalmente válida, que portanto não depende de nenhuma outra nem é limitada por quaisquer considerações externas.

A “liberdade” é, com freqüência, nada mais que um adorno retórico usado para encobrir a vigência de algum princípio totalmente diverso. Quando alguém proclama que “a liberdade de um termina onde começa a do outro”, ele está reconhecendo implicitamente – embora quase nunca o perceba – que essa liberdade é apenas a margem de manobra deixada ao cidadão dentro da rede de relações determinada por uma ordem jurídica estabelecida. O princípio aí fundante é, pois, o de “ordem”, não o de “liberdade”. Isso basta para demonstrar que a “liberdade” não é jamais um princípio, mas apenas a decorrência mais ou menos acidental da aplicação de um princípio totalmente diverso.

Só tomadas como palavras-de-ordem partidárias podem a ordem e a liberdade ser ocasião de preferência e escolha. Usadas como sinais descritivos de realidades objetivas, não há entre elas nem oposição nem confluência, mas uma relação de conjunto e subconjunto: a liberdade é um elemento da ordem, não havendo portanto escolha entre “mais liberdade” e “mais ordem”, mas sim apenas entre ordens que fomentam a liberdade e ordens que a estrangulam.

Em todo sistema político, a liberdade é sempre e exclusivamente a margem de manobra repartida entre os vários agentes dentro da ordem jurídica existente; que a ordem é a condição possibilitadora da liberdade, e não esta daquela, como se vê pelo simples fato de que pode existir uma ordem sem muita liberdade, mas nenhuma liberdade fora da ordem, exceto num hipotético e aliás autocontraditório “estado de natureza”. A ordem pode inspirar-se no desejo de ampliar a margem de liberdade até o máximo possível, mas não há por que confundir entre o ideal inspirador de uma construção e os elementos substantivos que a compõem. Por definição, a ordem, qualquer ordem, da mais libertária à mais autoritária, não é um sistema de franquias e sim de obrigações, restrições e controles. Simone Weil já observava, com razão, que cada direito assegurado a um cidadão nada mais é do que uma obrigação imposta a outros e fora disso é apenas um flatus vocis. Uma ordem liberal, ou mais ainda libertária, só pode ser concebida como um sistema complexo de controles idealmente recíprocos (checks and balances) destinado a limitar a liberdade de todos de modo que a de um não se sobreponha à dos outros: a liberdade do agente individual é a margem que sobra no fim de todas as subtrações de parte a parte. Que a noção é problemática e um tanto paradoxal, revela-o o fato de que o mesmo processo legisferante necessário à preservação das liberdades pode se tornar opressivo quando os direitos proclamados são muitos e os controles criados para a sua manutenção geram o crescimento ilimitado da burocracia judicial, policial e administrativa. 

[1] [2] [3]


quinta-feira, 7 de junho de 2018

Discriminação contra cidadãos de origem palestina nos países árabes

Kuwait: expulsão de 400 mil pessoas

Em 1991, após a Organização para a Libertação da Palestina ter decidido apoiar a ocupação iraquiana (agosto de 1990 - fevereiro de 1991), o governo do Kuwait, em retaliação, expulsou a maioria de seus de residentes de origem palestina. A maior parte dos expulsos residia no Kuwait há décadas e não era favorável a mudança de lado da OLP, mas isso não fez nenhuma diferença.

A partir de setembro de 1991, cerca de 200.000 palestinos foram expulsos do emirado em uma campanha sistemática de terror, violência e pressão econômica, enquanto outros 200.000 que fugiram durante a ocupação do Iraque tiveram seu retorno negados. Em setembro de 1991, a comunidade palestina do Kuwait tinha diminuído para cerca de 20.000.

   Limpeza étnica:                                     :التطهير العرقي

بعد انتهاء حرب الخليج عام 1991 , تناقص حجم الفلسطينيين في الكويت من جالية نشيطة وناجحة تعد بأكثر من 450,000 إلى أقل من 30,000 في عام 1998. فقد أجبرهم الكويتيون على الرحيل عن البلاد مستخدمين ضدهم حملة تطهير عرقية عنيفة ومنظمة. وكانت ذريعتهم في ذلك أن القيادة الفلسطينية قدمت المساندة للعراق أثناء الأزمة.
"Após a Guerra do Golfo, em 1991, os palestinos no Kuwait foram reduzidos de uma próspera comunidade de imigrantes de mais de 400 mil pessoas para menos de 30.000 em 1998. Os kuwaitianos os forçaram a deixar o país após uma sistemática e violenta campanha de limpeza étnica. O apoio oficial da liderança palestina em favor do Iraque durante a crise foi usado como uma desculpa para essa campanha."

وقد بدأت الفظائع الكويتية ضد الفلسطينيين أثناء الأزمة وقبل الحرب, أي في عام 1990 , ولكنها تصاعدت بحدة مباشرة بعد الحرب ابتداء من 28 فبراير/ شباط 1991 ولعدة أشهر تلت. وقد استفادت الحملة الإرهابية الكويتية من صمت الصحافة العربية والعالمية إزاءها, بسبب الرقابة الرسمية في دول التحالف والانشغال بتغطية نشوة النصر.
وقد كان ذلك موقفاً غريباً لاسيما من أجهزة الإعلام الغربية, فبينما توسعت شبكات التلفزيون في تغطية أخبار الحرب, فإنها نادراً ما كانت تشير إلى ما يجرى ضد الفلسطينيين في الكويت.
وكانت الصحف أكثر موضوعية من وسائل الإعلام الأخرى, فقام القليل منها بتغطية الحملة الإرهابية الكويتية ولكن تلك التغطية لم تكن منتظمة أو مستمرة. والأهم من ذلك كله أن هذا الموضوع لا زال يتم تجنبه ليس فقط من قبل أجهزة الإعلام وإنما من قبل السياسيين في دول التحالف.
"As atrocidades do Kuwait começaram durante a crise de 1990, mas se intensificaram logo após o término da guerra, em 28 de fevereiro de 1991. A campanha de terror foi escondida do Ocidente por uma imprensa censurada e eufórica por causa da vitória. Enquanto as redes de televisão fizeram uma extensa cobertura da Guerra do Golfo, elas fizeram muito pouco para cobrir a ofensiva do Kuwait contra seus cidadãos de origem palestina. Alguns poucos jornais cobriram os eventos mais importantes, mas não o fizeram de forma sistemática. O mais importante é que este tema ainda é evitado não só pela mídia, mas também pelos líderes da coalizão."

بعض المسؤولين الكويتيين, ومنهم سعيد عبد العزيز أبو عباس الذي كان يعمل في وزارة لدفاع, بأن عدد الفلسطينيين الذين سيسمح لهم بالإقامة في البلاد لن يتجاوز 30,000 نسمه.
"Algumas autoridades do Kuwait, como Abdul-Aziz Abu-Abbas, do Ministério da Defesa, revelaram desde o início que apenas 30.000 cidadãos de origem palestina seriam autorizados a ficar."
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Líbano: proibição de exercer mais de 70 profissões

Da al-Jazira:
"Restrições de trabalho:  
Parte do problema é que os refugiados são impedidos de exercer certas funções.  
Estas restrições impostas sobre os 400.000 refugiados palestinos no Líbano foram se acumulando desde o fim da guerra civil nos anos 90. Eles estão proibidos de exercer 73 categorias de trabalho, incluindo profissões como medicina, direito e engenharia.  
Eles não estão autorizados a possuir propriedade -- ao contrário de outros estrangeiros -- e não têm acesso ao sistema de saúde do Líbano."
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Jordânia: revogação da cidadania

Do al-Arabiya:
Para o ex-cidadão jordaniano Abu Akram al-Reish a realidade de se tornar, do dia para noite, um apátrida sem qualquer documentação que prove a sua existência legal foi uma realidade muito dura que ele e sua família tiveram que enfrentar desde 2008. Embora tenha nascido e crescido na Jordânia, o seu calvário começou quando ele foi convocado pelo Ministério do Interior jordaniano e foi obrigado a entregar seu passaporte, sua carteira de motorista e sua carteira de identidade. Não lhe ofereceram nenhuma explicação e ele foi praticamente expulso do Ministério. 
A revogação da cidadania de cidadãos jordanianos de origem palestina começou quando o falecido rei Hussein cortou os vínculos jurídicos e administrativos entre a Jordânia e o seu próprio território ocupado da Cisjordânia, em julho de 1988.  
Na opinião do Bassam Badareen, que é um dos principais especialistas nesta questão e é o chefe da sucursal do al-Quds al-Arabi em Londres, este e muitos outros casos similares mostram como há uma clara discriminação contra os palestinos na Jordânia. "A desnacionalização de cidadãos jordanianos é realizada por instruções secretas de um comitê secreto dentro das agências de inteligência e de segurança, e seu único propósito é assustar os palestinos na Jordânia para que não exijam seus direitos civis e eleitorais".
Não há dados oficiais sobre o número de "palestinos" na Jordânia pois o governo não os divulga, mas estimativas vão de 50% a 70% do total da população do país:

يخطط العاهل الاردني لاتخاذ سلسلة من الخطوات لاحباط أي محاولة لإعادة توطين اللاجئين الفلسطينيين في المملكة والذين يشكلون نحو 70% من سكان المملكة.

Também não há dados oficiais sobre o número de cidadãos jordanianos que tiveram sua nacionalidade revogada, mas jornais falam em 40.000 -- e mais 1.6 milhão podem passar pelo mesmo problema:


وحسب التقرير فان نحو 40 الف فلسطيني فقدوا وضعهم كمواطنين أردنيين في الأشهر الأخيرة

De acordo com o jornalista árabe-israelense Khaled Abu Toameh e com o ativista político jordaniano de origem palestina Mudar Zahran, na época da implementação da lei que revoga a nacionalidade de jordanianos o ministro do interior do país, Nayef al-Kadi, declarou:
"Nosso objetivo é impedir Israel de esvaziar os territórios palestinos de seus habitantes originais [...] deveriam nos agradecer por tomar esta medida [...] estamos cumprindo nosso dever nacional, porque Israel quer expulsar os palestinos de sua terra natal." 



segunda-feira, 4 de junho de 2018

Discriminação contra cidadãos de origem palestina no Kuwait: expulsão de 400 mil pessoas

Em 1991, após a Organização para a Libertação da Palestina ter decidido apoiar a ocupação iraquiana (agosto de 1990 - fevereiro de 1991), o governo do Kuwait, em retaliação, expulsou a maioria de seus de residentes de origem palestina. A maior parte dos expulsos residia no Kuwait há décadas e não era favorável a mudança de lado da OLP, mas isso não fez nenhuma diferença.
A partir de setembro de 1991, cerca de 200.000 palestinos foram expulsos do emirado em uma campanha sistemática de terror, violência e pressão econômica, enquanto outros 200.000 que fugiram durante a ocupação do Iraque tiveram seu retorno negado. Em setembro de 1991, a comunidade palestina do Kuwait tinha diminuído para cerca de 20.000.



   Limpeza étnica:                                     :التطهير العرقي

بعد انتهاء حرب الخليج عام 1991 , تناقص حجم الفلسطينيين في الكويت من جالية نشيطة وناجحة تعد بأكثر من 450,000 إلى أقل من 30,000 في عام 1998. فقد أجبرهم الكويتيون على الرحيل عن البلاد مستخدمين ضدهم حملة تطهير عرقية عنيفة ومنظمة. وكانت ذريعتهم في ذلك أن القيادة الفلسطينية قدمت المساندة للعراق أثناء الأزمة.
"Após a Guerra do Golfo, em 1991, os palestinos no Kuwait foram reduzidos de uma próspera comunidade de imigrantes de mais de 400 mil pessoas para menos de 30.000 em 1998. Os kuwaitianos os forçaram a deixar o país após uma sistemática e violenta campanha de limpeza étnica. O apoio oficial da liderança palestina em favor do Iraque durante a crise foi usado como uma desculpa para essa campanha."


وقد بدأت الفظائع الكويتية ضد الفلسطينيين أثناء الأزمة وقبل الحرب, أي في عام 1990 , ولكنها تصاعدت بحدة مباشرة بعد الحرب ابتداء من 28 فبراير/ شباط 1991 ولعدة أشهر تلت. وقد استفادت الحملة الإرهابية الكويتية من صمت الصحافة العربية والعالمية إزاءها, بسبب الرقابة الرسمية في دول التحالف والانشغال بتغطية نشوة النصر.
وقد كان ذلك موقفاً غريباً لاسيما من أجهزة الإعلام الغربية, فبينما توسعت شبكات التلفزيون في تغطية أخبار الحرب, فإنها نادراً ما كانت تشير إلى ما يجرى ضد الفلسطينيين في الكويت.
وكانت الصحف أكثر موضوعية من وسائل الإعلام الأخرى, فقام القليل منها بتغطية الحملة الإرهابية الكويتية ولكن تلك التغطية لم تكن منتظمة أو مستمرة. والأهم من ذلك كله أن هذا الموضوع لا زال يتم تجنبه ليس فقط من قبل أجهزة الإعلام وإنما من قبل السياسيين في دول التحالف.
"As atrocidades do Kuwait começaram durante a crise de 1990, mas se intensificaram logo após o término da guerra, em 28 de fevereiro de 1991. A campanha de terror foi escondida do Ocidente por uma imprensa censurada e eufórica por causa da vitória. Enquanto as redes de televisão fizeram uma extensa cobertura da Guerra do Golfo, elas fizeram muito pouco para cobrir a ofensiva do Kuwait contra seus cidadãos de origem palestina. Alguns poucos jornais cobriram os eventos mais importantes, mas não o fizeram de forma sistemática. O mais importante é que este tema ainda é evitado não só pela mídia, mas também pelos líderes da coalizão."

بعض المسؤولين الكويتيين, ومنهم سعيد عبد العزيز أبو عباس الذي كان يعمل في وزارة لدفاع, بأن عدد الفلسطينيين الذين سيسمح لهم بالإقامة في البلاد لن يتجاوز 30,000 نسمه.
"Algumas autoridades do Kuwait, como Abdul-Aziz Abu-Abbas, do Ministério da Defesa, revelaram desde o início que apenas 30.000 cidadãos de origem palestina seriam autorizados a ficar."

Judeus na tradição islâmica: Gharqad, a "árvore dos judeus"

De acordo com a tradição islâmica, esta será a única árvore que não "delatará" os judeus para seus algozes muçulmanos

A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los, e mesmo que os judeus se abriguem atrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: “Oh, muçulmanos! Oh, servos de Alá, há um judeu atrás de mim, venha e mate-o”.
-- Hadith 6985 (Kitab Al-Fitan wa Ashrat As-Sa'ah)
Muitas vezes traduzido como "tradição"**, Hadith (plural em árabe: Ahadith) relata os ditos e atos de Maomé e é considerado uma  ferramenta extremamente importante para a compreensão do Corão e em matéria de jurisprudência. Os Hadiths, que eram transmitidos oralmente, foram avaliados e reunidos em grandes coleções nos dois séculos que se seguiram após a morte do profeta muçulmano. Estas obras são referidas em matéria de lei islâmica e história até hoje, apesar de não haver um consenso entre os diferentes grupos religiosos maometanos -- como sunitas, xiitas e ibadis -- que acreditam em diferentes coleções de Hadiths.

O Hadith do topo é muito citado por teólogos e líderes religiosos sunitas e muito popular entre seus seguidores -- sendo encontrado, inclusive, no Estatuto do Hamas, em seu artigo 7º:


Art. 7º Em todos os países do mundo encontram-se muçulmanos que seguem o caminho do Movimento de Resistência Islâmica, e tudo fazem para apoiá-lo, adotando seu  posicionamento e reforçando a sua Guerra Santa (jihad). Por isso, é um Movimento universal, qualificado para esse papel devido à clareza de sua ideologia, superioridade de seus fins e sublimidade de seus objetivos. Nessas bases é que deve ser visto e avaliado, e é nessas bases que seu papel deve ser reconhecido.

(…)
o Movimento de Resistência Islâmica aspira concretizar a promessa de Alá, não importando quanto tempo levará. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse: “A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem atrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: “Oh, Muçulmanos! Oh, Servos de Alá, há um judeu atrás de mim, venha e mate-o”.

No entanto há aqueles mais moderados, que discordam da forma como este Hadith é entendido pelo Hamas e pela esmagadora maioria dos líderes religiosos e fiéis muçulmanos. Estes afirmam que o texto está descrevendo um evento milagroso específico que ocorrerá perto do fim dos tempos. Ou seja, na opinião destes, leis
 não poderiam ser derivadas dali, pois o que há no texto é uma descrição, não uma prescrição. Para os que defendem essa tese o massacre de judeus com a colaboração de árvores e pedras também ocorrerá, mas não desde já.

Outros trazem suratas que falam sobre coexistência e tolerância. O grande problema é que, ao contrário de outras religiões que se baseiam em textos sagrados, o Islã faz uso da doutrina da revogação, na qual os pronunciamentos mais recentes de Maomé tornam nulos e sem efeito os seus ditos mais antigos. Quatro versos do Corão reconhecem ou justificam a revogação: 

Surata 2:106 - "a vaca"

 مَا نَنْسَخْ مِنْ آيَةٍ أَوْ نُنْسِهَا نَأْتِ بِخَيْرٍ مِنْهَا أَوْ مِثْلِهَا ۗ أَلَمْ تَعْلَمْ أَنَّ اللَّهَ عَلَىٰ كُلِّ شَيْءٍ قَدِيرٌ

Quando cancelamos uma mensagem, ou a jogamos no esquecimento, nós a substituimos por uma melhor ou uma similar. Você não sabe que Deus tem poder sobre todas as coisas?

Surata 13:39 - "o trovão"

يَمْحُو اللَّهُ مَا يَشَاءُ وَيُثْبِتُ ۖ وَعِنْدَهُ أُمُّ الْكِتَابِ                  

Deus anula ou confirma tudo o que quiser, pois ele tem com ele o Livro dos Livros.

Surata 16:101 - "as abelhas"

وَإِذَا بَدَّلْنَا آيَةً مَكَانَ آيَةٍ ۙ وَاللَّهُ أَعْلَمُ بِمَا يُنَزِّلُ قَالُوا إِنَّمَا أَنْتَ مُفْتَرٍ ۚ بَلْ أَكْثَرُهُمْ لَا يَعْلَمُونَ

Quando substituimos uma mensagem com os outras, e Deus sabe melhor o que ele revela, eles dizem: Você inventou isso. No entanto, a maioria deles não entende.

Surata 17:86 - "A viagem noturna"

وَلَئِنْ شِئْنَا لَنَذْهَبَنَّ بِالَّذِي أَوْحَيْنَا إِلَيْكَ ثُمَّ لَا تَجِدُ لَكَ بِهِ عَلَيْنَا وَكِيلًا


Se quiséssemos, poderíamos tirar o que temos revelado a você. Então você não vai encontrar ninguém para interceder em teu nome diante de nós.


Em vez de explicar as inconsistências em passagens que regulam a comunidade muçulmana, os juristas simplesmente reconhecem as diferenças e aceitam  que os versículos mais novos anulam os anteriores. 
A maioria dos estudiosos divide o Corão em versos revelados por Maomé em Meca, quando sua comunidade de seguidores era fraca e mais inclinada a concessões -- e quando ele ainda tinha a esperança de ser um novo profeta para judeus e cristãos --, e aqueles revelados em Medina, quando Maomé comandava uma força considerável e já tinha sido rejeitado por crentes de outras religiões. E é aí que mora o problema: os versos mais pacíficos e tolerantes são, em sua grande maioria mais antigos, e, portanto, revogados pelos mais novos -- e também mais violentos e mais intolerantes.   

Voltando ao hadith do topo, vemos o atual mufti (o mais alto cargo para um líder religioso) de Jerusalém usando o mesmo trecho para incitar os muçulmanos a atacar judeus:


O video começa com um mestre de cerimônias que apresenta o mufti no evento Fatah de Mahmoud Abbas. Ele lembra de outra crença islâmica logo nos primeiros segundos: que os judeus são descendentes de porcos e macacos.
Nossa guerra com os descendentes dos macacos e porcos (os judeus) é uma guerra de religião e fé."
 O mufti, além de não se distanciar desta declaração, acrescentou outra: que o objetivo do Islã é matar judeus.
Existem inúmeras coleções de hadiths, algumas das quais não são aceitas como confiáveis. No entanto, o mufti salientou que a crença de que os judeus serão mortos pelos muçulmanos como uma precondição para ressurreição é uma autêntica crença islâmica, porque esse hadith aparece na coleção al-Bukhari, que é considerada verdadeira e confiável. E essa não foi a primeira vez que o mufti se meteu em encrenca. Em outro discurso público ele afirmou que "os judeus são inimigos de Alá"...

Após críticas de líderes americanos o mufti da Autoridade Palestina tentou se explicar. Em um primeiro momento, disse que o discurso não foi uma "incitação à matança de judeus. Nós não podemos mudar os escritos religiosos históricos e nós não queremos mudá-los. No entanto, estamos falando agora sobre a realidade. A realidade é que queremos alcançar uma paz justa". Depois afirmou que seu pronunciamento foi maliciosamente editado.

Como resposta, a ONG que tinha publicado apenas um trecho do discurso resolveu não só exibir o discurso na íntegra como ainda respondeu as alegações do líder religioso:

As declarações das duas mais altas autoridades religiosas da Autoridade Palestina são deturpações do que o mufti disse. Na verdade, as palavras que ele escolheu para fornecer um contexto mostram que ele citou este hadith que antecipa muçulmanos matando judeus para torná-lo [o Hadith] relevante para o conflito árabe-israelense atual.  
O mufti introduziu o hadith referindo-se aos "47 anos" do Fatah e da "revolução" palestina, desta forma colocando o hadith no contexto de hoje. Em seguida, ele acrescentou que este é um "hadith confiável" das coleções verdadeiras e de confiança, e parte da lei/crença islâmica aceita. Depois de citar o hadith, o mufti afirmou que os israelenses estão plantando a "árvore Gharqad em Israel e em torno dos assentamentos e colônias", sugerindo que Israel está se preparando para o momento em que os muçulmanos cumprirão este hadith vindo para matá-los. De acordo com a tradição islâmica a árvore Gharqad será a única árvore que não chamará os muçulmanos para matar os judeus que estarão se escondendo atrás dela. Ao dizer que israelenses já estão plantando estas árvores em torno de suas cidades, o mufti estava relacionando explicitamente o hadith sobre o assassinato de judeus com o atual momento. Ele não estava apenas citando "escritos religiosos históricos", como alegou.

De acordo com uma pesquisa realizada nos territórios controlados pela Autoridade Palestina e em Gaza, 73% dos participantes concorda com este hadith genocida. Outros 80% concordam com o artigo 15º contido no estatuto do Hamas, que defende o Jihad e o uso de atentados suicidas. Outros 72% afirmam apoiar a negação de qualquer vínculo histórico dos judeus com a cidade de Jerusalém, e 6 em cada 10 são contra a existência de um estado judaico, não importando suas fronteiras.


**O significado de Hadith é história/narrativa



sexta-feira, 1 de junho de 2018

A "nação árabe"


Flag of the Arab Revolt, designed by Sir Mark Sykes, flies in Aqaba, Jordan. Photo: Wikimedia
 Bandeira da revolta árabe, que foi criada pelo diplomata britânico Mark Sykes. As quatro cores da bandeira representavam as diferentes dinastias árabes: abássidasomíadas, fatimidas e hachemitas. Ela serviu de base para as bandeiras dos recém-criados estados "árabes"


Desde a formação do atual Oriente Médio, criado na sequência da Primeira Guerra Mundial, a vida política da região tem sido atormentada pela doutrina do "nacionalismo árabe", que postula a existência de "uma única nação [árabe] vinculada por laços comuns de língua, religião e história [...] por trás da fachada de uma multiplicidade de Estados soberanos".

A extensão territorial desta suposta nação varia de acordo com os diferentes expoentes da ideologia. Os mais "modestos" reivindicam o território que engloba a Península Arábica, o Levante e o Delta do Nilo, enquanto outros, ainda não satisfeitos, complementam o "mundo árabe" com todo o norte da Africa, Sudão e partes do Irã e da Turquia. 

Um detalhe importante é que a suposta unidade das populações de língua árabe que habitam esses vastos territórios nunca é questionada. Nas palavras do acadêmico árabe-palestino Walid Khalidi, que não sente a mínima vergonha de assumir que a realidade e os fatos não têm o poder de mudar suas noções preconcebidas: "Esta nação é real, e não potencial. O fracasso manifesto de até mesmo nos aproximarmos de uma unidade não nega a realidade empírica da nação árabe. Ele simplesmente adiciona dimensões normativas e prescritivas à ideologia do pan-arabismo. A nação árabe não só é, como deve ser uma". 

Propaganda a parte, o "nacionalismo árabe" não passa de ficção. Ele não representa e nunca representou um movimento nacional genuíno, e não passa de um eufemismo para o mais claro exemplo de imperialismo existente nos dias de hoje. Não há e nunca houve uma "nação árabe", e sua invocação nunca foi nada além de um manobra esperta para angariar apoio popular e simpatia da opinião pública mundial para as ambições imperialistas de socialistas árabes e líderes islâmicos órfãos dos califados.

Se uma nação é um grupo de pessoas que partilham ascendência, língua, cultura, tradição e história em comum, então nacionalismo é o desejo de autodeterminação de tal grupo em um território específico que eles consideram ser o seu patrimônio.

Os únicos denominadores comuns entre as diversas populações de língua árabe do Oriente Médio são língua e religião -- ambas impostas a força e conseqüências da época imperial islâmica. E mesmo esses fatores comuns nunca geraram nenhum sentido comum de solidariedade "árabe". Isso sem falar em sentimentos profundamente arraigados de história comum, destino compartilhado ou apego a uma pátria ancestral. Esses sentimentos sequer existem entre os diversos grupos islâmicos, que consideram seus 'irmãos' de outras seitas como infiéis. 

Mesmo sob impérios islâmicos universais, desde os tempos do califado omíada até o otomano, as populações falantes de língua árabe do Oriente Médio nunca se unificaram ou chegaram a se considerar como uma única nação. Muito pelo contrário, os vários reinos e impérios árabes sempre competiram pelo domínio regional ou se desenvolveram paralelamente com outras culturas sob a mesma égide imperial.


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Thomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia

Da mesma forma que outros idiomas imperiais -- como inglês, espanhol e o português -- o árabe foi assimilado pelas diversas populações nativas de suas antigas colonias, que quase nada tinham em comum. Até Lawrence da Arábia, o mais famoso pan-arabista ocidental, admitiu em seus últimos anos que a "unidade árabe é um conceito insano", e continuou sua conclusão fazendo uma comparação: "a unidade dos povos de língua inglesa seria um paralelo justo".

Esta dissonância entre o verdadeiro nacionalismo e o sonho de um império árabe e/ou islâmico embrulhado como uma "nação árabe" unificada criou um legado de violência e perseguições de minorias que tem assombrado o Oriente Médio.