quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Datafolha conduz pesquisa em frente a presídio

De acordo com a Folha de S. Paulo é verdadeiro o vídeo de uma pesquisadora do Datafolha entrevistando pessoas em um ponto de ônibus em frente a um presídio.



O vídeo acompanha um texto feito por um policial militar da cidade de Corumbaíba:
"Agora tá explicado porque o PT tem crescido nas pesquisas. E a funcionária do Datafolha não quer ser filmada. Canalhice do Datafolha. Instituto comprado. Esquerdista e vagabundo."

A matéria da Folha justifica a condução da pesquisa afirmando que se trata de "local próximo a supermercados, igrejas, agências bancárias e um hospital, região ideal para realizar entrevistas". 

Nada surpreendente, considerando que o Datafolha é um instituto de pesquisas do Grupo Folha, conjunto de empresas coligadas do qual o jornal Folha de S.Paulo faz parte. Fundado em 1983, como departamento de pesquisas da Folha da Manhã, estabeleceu-se com estrutura independente para atender a clientes externos em 1990. Em 1995, foi transformado em unidade de negócios do Grupo Folha.

Esta metodologia questionável pode ser útil para explicar os resultados absurdos [1] [2] [3] [4] apontados pelo Datafolha nesta eleição e na de 2014. Coincidência ou não, Haddad e o PT têm uma votação muito superior a seus concorrentes entre presídiários paraibanos, como mostram os dados do Superior Tribunal Eleitoral:
Os presos provisórios que estavam aptos a votar nestas Eleições 2018 elegeriam o candidato Fernando Haddad (PT) em primeiro turno. Ele recebeu 65,6% dos votos totais dos 67 presos que compareceram às urnas no dia 7 de outubro. O outro candidato que avançou para o segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL), teve apenas 5,9% e ficaria em terceiro lugar na disputa. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os presos votaram pois estavam respondendo aos processos sem sentença penal condenatória. As seções nos presídios funcionaram da mesma maneira que em seção convencional.


Ibope e Datafolha x Paraná - como os institutos de pesquisa controlam previsões para manipular eleições

Nas eleições deste ano, tanto Ibope quanto Datafolha apontaram Jair Bolsonaro, o candidato líder na intenção de votos no primeiro turno, perdendo de forma constante para todos os outros candidatos bem colocados num hipotético segundo turno (e, de longe, com a maior rejeição entre os presidenciáveis). Só nas últimas pesquisas o resultado se tornou um empate técnico com mínima vantagem numérica em favor do ex-militar.

Veja: Bolsonaro perde de Haddad por 45% a 39% no 2º turno, diz Datafolha 
Além do petista, candidato do PSL, líder das pesquisas, é derrotado por Ciro Gomes e Geraldo Alckmin na parte decisiva da eleição 



Os números foram tão propagados que acabaram por se tornar parte principal da campanha de Geraldo Alckmin em sua tentativa frustrada de tomar votos de Bolsonaro. 
Alckmin começou a campanha na televisão batendo forte em Jair Bolsonaro. Com o atentado sofrido pelo candidato do PSL, recuou. Passada uma semana, voltou ao ataque, mas procurando desidratar o ex-capitão por sua suposta fragilidade no confronto com Fernando Haddad em um eventual segundo turno. [1] [2] [3]

Foi o retorno do manjadíssimo voto útil, ancorado nos resultados tanto do Ibope quanto do Datafolha.

Nas pesquisas que divulgaram um dia antes do primeiro turno, em 6 de outubro, Datafolha e Ibope apostavam no “empate técnico” de Bolsonaro e Haddad: o primeiro instituto deu 45% a 43%, e o segundo, 45% a 41% (nos dois casos, com o candidato do PSL numericamente à frente).

Curiosamente, o empate técnico do Datafolha do dia 6 de outubro se tornou um 58% a 42% em favor de Bolsonaro apenas 4 dias depois, sem nenhum fator que explique tamanha diferença.
O que torna os números do Datafolha e Ibope ainda mais injustificáveis é o resultado do segundo turno apontado pelo instituto de pesquisas Paraná, publicado no dia 5 de outubro, um dia antes do outros institutos citados e dois dias antes do primeiro turno: 
Em 5 de outubro, a pesquisa encomendada por Crusoé ao Instituto Paraná foi a primeira a apontar para a larga vantagem de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad no segundo turno. 
De acordo com o levantamento, nas simulações de segundo turno (contando os votos totais), Bolsonaro derrotaria Haddad por 47,1% a 38,1% – nove pontos de diferença.

A única "explicação" fornecida pelo Datafolha foi o momento da decisão do voto. De acordo com a organização, 12% dos eleitores disseram ter escolhido o candidato no dia da eleição, enquanto 6% o fizeram na véspera.




quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Ibope e Datafolha "erram" última pesquisa por 30 pontos percentuais


Se a atuação do Ibope e Datafolha foi um fracasso nas últimas eleições, os resultados do primeiro turno da eleição deste ano acabaram por enterrar qualquer vestígio de seriedade por partes destes institutos de pesquisa. 
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Um dia antes da eleição deste 7 de outubro, Dilma Rousseff liderava com folga a disputa pelo Senado em Minas Gerais. Com 28% dos votos válidos no Ibope e 26% no Datafolha, a ex-presidente assistiria de camarote à briga pela segunda vaga. Na noite de domingo, descobriu que as urnas haviam discordado das sumidades da estatística: com apenas 15%, Dilma acabou rebaixada para um humilhante quarto lugar. 

No mesmo dia 7, Wilson Witzel acordou convencido de que teria de cuidar da vida no dia seguinte. Candidato ao governo do Rio, soube na véspera que alcançara apenas 12% no Ibope, 20 pontos percentuais abaixo do líder Eduardo Paes. Terminada a apuração, Witzel pousou no segundo turno a bordo de 42% dos votos, 30 pontos percentuais acima do que haviam profetizado no sábado os magos das intenções de voto.

Como explicar o descompasso abissal entre os levantamentos eleitorais e o mundo real? “Pesquisa é um retrato do momento”, recitaram os dirigentes dos dois principais institutos. (Alguém aí acredita que, se a eleição tivesse ocorrido no sábado, Dilma seria a vitoriosa e Witzel permaneceria na zona de rebaixamento?). Também avisaram que brasileiro gosta de mudar de ideia minutos antes de votar. (Se é assim, por que abrir em julho a temporada de pesquisas?)

Na véspera da disputa pelo governo de Minas Gerais, tanto Ibope quanto Datafolha previam que o favorito para o governo era Antonio Anastasia. No Ibope, o tucano contava com simplesmente 42% das intenções de voto – número o suficiente para alcançar a vitória no primeiro turno. Em segundo vinha o petista Fernando Pimentel, com 25%. O empresário Romeu Zema, do NOVO, estreante na política, vinha em curva ascendente empatado tecnicamente em terceiro lugar, com 23%.

Os números do Datafolha não estavam muito melhores: Anastasia com 40%, Pimentel com 29% e Zema com 24%, sem chance de ir ao segundo turno. Ambas as pesquisas foram divulgadas na véspera.

Já na vida real, quem estava com 40%, ou melhor, com 42,9% era Romeu Zema, que Datafolha e Ibope consideravam em terceiro lugar (o Datafolha até sem chance de chegar ao segundo turno). Anastasia teve apenas 29% do eleitorado, e o petista Fernando Pimentel nem chegou ao segundo turno.

Zema se beneficiou de um erro dos petistas pelo fenômeno Bolsonaro, sendo o único candidato do partido a ir contra a cúpula do partido e declarar apoio ao presidenciável ainda no primeiro turno. Disparou para cima. Mas, tal como no Rio de Janeiro, é na melhor das hipóteses ridículo falar em pesquisa com 2 pontos percentuais de “margem de erro” que simplesmente inverte resultado na casa das dezenas um dia(!) antes das eleições.



sexta-feira, 14 de setembro de 2018

"Os institutos de pesquisa são confiáveis" - Datafolha

O Datafolha é um dos institutos de pesquisa mais utilizados pela grande imprensa, sendo responsável por calcular número de manifestantes em protestos, intenções de voto e tendências sociais/culturais no país.
Entre os grupos que fazem uso dos serviços do Datafolha estão as organizações Globo, a revista Veja e a Folha de S. Paulo/UOL. Praticamente todos os órgãos de imprensa repercutem seus resultados.


No 1º turno, Datafolha errou mais da metade das previsões para cargos executivos em 2014
O Datafolha errou 63% das previsões de intenção de votos válidos para cargos executivos envolvendo os principais candidatos no primeiro turno, de acordo com levantamento feito pelo Yahoo Brasil com os últimos dados divulgados pela entidade antes das eleições.

Sobre o percentual de intenções de voto, o Datafolha errou 17 previsões (63%) - inclusive duas presidenciais - e acertou as outras 10 (37%), envolvendo pesquisas em sete Estados, no Distrito Federal e para Presidência da República. O Yahoo considerou apenas as estimativas para os três primeiros colocados no resultado final.

Os acertos consideram resultados finais das votações que ficaram dentro da margem de erro anunciada das pesquisas (de 2% e 3%, dependendo do caso) e também dentro de uma tolerância de 0,5% no levantamento do Yahoo para mais ou para menos além da margem de erro.

13 de março, maior manifestação da história do país - Datafolha acha apenas 1/3 do número de manifestantes calculado pela Polícia Militar 
Na maior manifestação da história do país, milhões de brasileiros foram às ruas, em pelo menos 239 cidades nas cinco regiões, pedir a saída da petista Dilma Rousseff da Presidência da República. Os protestos também tiveram como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e principal líder do PT, então investigado pela Operação Lava Jato.



A Polícia Militar calculou o número de manifestantes na Avenida Paulista em 1,4 milhão de pessoas; o Datafolha em apenas 500 mil.

Já na manifestação de 18 de março na Av. Paulista, em defesa do governo, de Lula e do PT, a Polícia Militar calculou em 80 mil pessoas o número de manifestantes, enquanto o Datafolha achou 95 mil o presentes.



Ato da CUT em defesa de Dilma Rousseff - Como transformar 8 mil em 41 mil
O Datafolha, publicou o UOL, criou uma metodologia de quadrantes e coisa e tal, para afirmar que 41 mil manifestantes participaram do ato da CUT em defesa de Dilma Rousseff, na Avenida Paulista e no centro de São Paulo.

Aí você lê o troço e descobre que, “no período de pico”, entre 16 e 17 horas, 35 mil pessoas estavam presentes na manifestação. Aí você continua a ler o troço e depara com a informação de que 8 mil pessoas se manifestaram simultaneamente durante todo o tempo.

O Antagonista concluiu que o Datafolha criou uma metodologia que inclui passantes e curiosos, a fim de transformar 8 mil em 41 mil. E aposta que a mesma metodologia será aplicada inversamente, para diminuir o tamanho da manifestação contra Dilma Rousseff no domingo.


Milagre natalino: Datafolha conseguiu encontrar 23% de ateus que acreditam na frase: 'Todo o sucesso financeiro da minha vida eu devo, em primeiro lugar, a Deus'
O Datafolha conseguiu encontrar 23% de ateus que creditam todo o sucesso financeiro de suas vidas a um Deus que dizem não existir.




Posições políticas dos responsáveis pelo Datafolha

"Inelegibilidade de ex-presidente Lula aprofunda crise democrática", por Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha.

Renata Nunes, presidente do Datafolha:
(Renata Nunes apagou o próprio perfil após ter sido exposta)










quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Pesquisas eleitorais são confiáveis? Elas influenciam o voto?

Estudos que lidam com a "opinião pública" em períodos eleitorais mostram que pesquisas podem causar alguns efeitos sobre a decisão do eleitor. 

Um deles é o chamado bandwagon effect, quando a pressão da opinião da maioria leva eleitores indecisos a optar pelo candidato que está em primeiro nas intenções de voto. Outro, que é menos decisivo e influencia menos o eleitor, é o underdog effect, quando o candidato pior colocado nas intenções tende a ganhar alguns votos. 
Há também o efeito chamado “voto útil”, no qual o eleitor escolhe uma segunda opção para não “perder” o seu voto e, como critério, escolhe entre os candidatos que estão na frente nas pesquisas. Este é, talvez, o efeito que mais influencia o eleitor.

O voto útil (também conhecido como estratégico ou tático) é um voto motivado pela intenção de afetar o resultado da eleição (Blais e Nadeau 1996; Cox 1997; Blais et al., 2001). Segundo estudos, cerca de 5% dos eleitores votam estratégicamente (Alvarez e Nagler 2000, Blais et al., 2001). 


As pesquisas afetam as considerações porque são baseadas em expectativas sobre o resultado da eleição. Elas podem levar as pessoas a não votarem em um determinado candidato porque mostram qué improvável que ele ganhe, ou a votar em outro, mesmo questcontcom menos indentificação, por ter mais chances de ganhar de um terceiro candidato que porventura esteja na dianteira e seja considerado pior.

Pesquisas no Brasil, principalmente as conduzidas pelos institutos Ibope Datafolha, são conhecidas por apontar com uma frequência preocupante uma intenção de voto muito menor para candidatos de oposição ou de fora do establishment político, e quase sempre muito acima da margem de erro. 
O Datafolha, por exemplo, errou 63% dos resultados no primeiro turno das eleições 2014.

Prefeitura do Rio de Janeiro, 2016
A última pesquisa do Datafolha antes do primeiro turno apontava o seguinte (resultado  oficial da eleição em vermelho):

Marcelo Crivella (PRB):             27%   27,78%
Pedro Paulo (PMDB):                10%   16,12%
Marcelo Freixo (PSOL):             13%   18,26%
Flávio Bolsonaro (PSC):             7%    14%
Jandira Feghali (PC do B):          6%     3,34%
Carlos Roberto Osório (PSDB):   8%      8,62%
Índio da Costa (PSD):                9%      8,89%

A margem de erro da pesquisa era de 2%, para mais ou para menos, e quatro candidatos tiveram votação acima ou abaixo dela: 

                    com margem de erro  /   Total

Pedro Paulo               +4,12%          +6,12% 
Jandira Feghali           -0,66%           -2,66%
Bolsonaro                  +5%              +7%
Marcelo Freixo           +3,26%.         +5,26%

Uma matéria da Folha de São Paulo levanta a questão:
Freixo, por sua vez, pode ganhar força no pedido de "voto útil de esquerda". O candidato do PSOL via Jandira se aproximar numericamente, mas a distância entre os dois foi para três pontos percentuais. Embora, na prática, o empate técnico se mantenha, a diferença pode pesar no argumento para convencer os eleitores.

O "voto útil" pode até explicar a diferença entre a intenção de votos na pesquisa do Datafolha e o número de votos obtidos pelos candidatos Pedro Paulo, Jandira Feghali e Marcelo Freixo. Mas como explicar uma diferença tão grande entre a pesquisa e o resultado obtido por Flávio Bolsonaro? Como um candidato embolado no meio da tabela e tecnicamente empatado com outros candidatos que, de uma forma ou outra, representavam uma oposição as posições extremadas da esquerda de Freixo foi capaz de crescer tanto assim, ainda mais sem que seus competidores diretos pelos votos da oposição perdessem os seus?   


Fontes
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