O site da campanha, que afirma que no Brasil sete em cada dez pessoas assassinadas são negras, também traz opiniões de artistas negros que culpam o racismo pela situação.
Taís Araújo afirma que “chegou a hora de acabar com o racismo que mata milhares de jovens negros todos os anos!” enquanto Elisa Lucinda, outra atriz da Globo, diz que “o racismo mata!”, assim deixando claro que tanto as atrizes quanto a campanha da ONU consideram que as mortes violentas de negros têm relação direta com o racismo.
A narrativa iniciada pela ONU logo foi adotada pela imprensa e pelo governo. Ainda no mês de novembro diversos veículos publicaram artigos e notícias sobre o assunto:
- Carta Capital: Atlas da Violência 2017: negros e jovens são as maiores vítimas
- G1, da Globo: Negros representam 71% das vítimas de homicídios no país, diz levantamento
O texto é acompanhado por um suposto caso de racismo cometido contra o ator Diogo Cintra, fazendo assim uma associação entre o racismo que teria vitimado o ator e os assassinatos de negros, que também seriam motivados pelo mesmo fenômeno.
- Agência Brasil, do Governo Federal: ONU lança campanha no Brasil para alertar sobre violência contra negros
O repórter Jonas Valente traz a opinião de políticos, ativistas e acadêmicos. Todos seguindo a mesma linha:
De acordo com a pesquisadora da Universidade de Brasília Kelly Quirino, "a redução da violência contra jovens negros passa pela mudança da política de combate às drogas e pelo desarmamento da polícia".
Para Luana Ferreira, assessora da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) do Ministério dos Direitos Humanos, "O desafio cotidiano da Seppir é dizer que vidas negras importam".
Já o secretário de Juventude do governo federal, Assis Filho, foi ainda mais longe ao afirmar que o governo está atuando contra o "genocídio dos negros no Brasil".
Um dado importantíssimo omitido tanto pela ONU quanto pela imprensa, e que vai de encontro a narrativa sobre a motivação racista dos assassinatos, diz respeito a autoria dos crimes.
Após meses de campanhas na TV, artigos e notícias martelando incessantemente a narrativa da ONU, a fantasia foi obrigada a ceder lugar aos fatos – ainda que nem de longe com a mesma visibilidade.
De acordo com dados oficiais e especialistas, tanto as vítimas quanto os assassinos são, em sua maioria, negros.
Isso é o que informa a Folha de São Paulo em abril de 2018, na matéria intitulada "Homens, negros e jovens são os que mais morrem e os que mais matam".
O texto traz o estudo "Mensurando o Tempo do Processo de Homicídio Doloso em Cinco Capitais" (2014), da pesquisadora da FGV Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro.
O trabalho analisa mortes ocorridas em 2013, com autoria identificada, em Belém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Recife.
Os autores dos crimes tinham as mesmas características da maioria das vítimas: homens, negros e jovens.
"É consenso entre a maioria dos especialistas ouvidos pelo G1 que o perfil de quem mata é parecido com o perfil de quem morre. Em geral, apontam, são homens negros de baixa renda, com baixa escolaridade, com até 29 anos, e moradores da periferia – especialmente locais onde o Estado é ausente e não atua com políticas públicas.
Os especialistas afirmam ainda que as mortes costumam ter alguma relação com o tráfico de drogas. Para eles, o aumento no número de crimes violentos está ligado ao fortalecimento e às brigas de facções criminosas. As mortes também são facilitadas pela crescente oferta e circulação de armas de fogo, dizem."
Esta parte é geralmente omitida por demagogos que tentam transformar em questão racial o problema dos homicídios – o maior do país –, que atinge brasileiros de todas as cores.
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