A ação do grupo foi condenada por diversos países árabes, que a classificaram-na como "não-islâmica". As afirmações foram repetidas incessantemente tanto pela direita quanto pela esquerda ocidental:
Pela direita: Paul Watson, do infowars, repete que "a execução viola princípios islâmicos"
"Ao escolher o fogo como o método de execução do piloto jordaniano Moaz al-Kasasbeh, um muçulmano devoto, o EI mais uma vez violou diretamente os princípios islâmicos.
[...]
Talvez, se mais muçulmanos entendessem que o EI está descaradamente profanando a fé islâmica, haveria uma onda de oposição ideológica maior."
Pela esquerda: o site Mother Jones diz que "ensinamentos islâmicos proíbem de forma explícita a morte pelo fogo, mas EI o fez assim mesmo"
"Queimar alguém vivo é absolutamente bárbaro, e é expressamente proibido no Islã", disse Emma El-Badawy, especialista Oriente Médio da Universidade de Exeter, à Sky News, uma estação de notícias no Reino Unido. O Conselho das Relações Islâmico-Americanas (CAIR) realizou uma conferência de imprensa em resposta ao ato, na qual Nihad Awad, o diretor nacional, chamou-o de "indizível e anti-islâmico".
Mas o islã permite ou não a execução usando fogo?
Fontes e argumentos usados para condenar o uso do fogo como punição
أن رسول الله صلى الله عليه وسلم أمره على سرية قال فخرجت فيها وقال إن وجدتم فلانا فأحرقوه بالنار فوليت فناداني فرجعت إليه فقال إن وجدتم فلانا فاقتلوه ولا تحرقوه فإنه لا يعذب بالنار إلا رب النار
Hadith retirada da coleção Sunan Abu Dawud: "Mate [o inimigo] mas não o queime, pois ninguém castiga com fogo senão o Senhor do Fogo".
O infowars ainda traz uma afirmação genérica do Dr. Wael Shihab, PhD em estudos islâmicos da universidade al-Azhar:
"É islâmicamente proibido queimar um ser-humano, seja vivo ou morto", diz Shihab, citando o Corão: "Alá, o Altíssimo, diz: "Verdadeiramente honramos os seres humanos "(al-Isra 17:70), e então ele cita o hadith acima para provar seu ponto.
"É islâmicamente proibido queimar um ser-humano, seja vivo ou morto", diz Shihab, citando o Corão: "Alá, o Altíssimo, diz: "Verdadeiramente honramos os seres humanos "(al-Isra 17:70), e então ele cita o hadith acima para provar seu ponto.
Um grande problema para os que defendem esta opinião é que, de acordo com este hadith, Alá também proíbe o uso de bombas e explosões, como afirma o Conselho Islâmico Supremo da América, o que faria com que TODAS as guerras modernas travadas por exércitos árabes ou grupos muçulmanos fossem consideradas "anti-islâmicas".
Fontes e argumentos usados para justificar o uso do fogo como punição
A proibição do uso de fogo para matar existe na religião muçulmana, chegando ao ponto de rejeitar o uso de eletricidade para matar até insetos, já que alguns eruditos islâmicos consideram a eletricidade como uma manifestação do fogo. Mas há diversas exceções.
Uma foi mencionada pelo próprio EI: O grupo cita Ibn Taymiyya, uma das maiores autoridades religiosas muçulmanas em toda a história e o precursor do Salafismo -- a ideologia que comanda o Reino da Arábia Saudita:
Uma foi mencionada pelo próprio EI: O grupo cita Ibn Taymiyya, uma das maiores autoridades religiosas muçulmanas em toda a história e o precursor do Salafismo -- a ideologia que comanda o Reino da Arábia Saudita:
“Ibn Taymiyya, que Alá tenha piedade dele, disse:
Então, se o horror de vulgarmente profanar o corpo for um chamado para eles [os infiéis] acreditarem [no Islã], ou para parar sua agressão, é a partir daqui que realizamos a punição e [temos] permissão para legalmente lançar Jihad"
1 - O Islam Web, um popular site de propriedade do Ministério de Assuntos Islâmicos do Qatar, publicou uma Fatwa (decisão legal) que permitia que pessoas fossem queimadas vivas.
Em 7 de fevereiro de 2006, o popular site árabe emitiu a Fatwa número 71480, intitulada "A queima de Ias bin Abdul Yalil por Abu Bakr." A fatwa, ou decreto islâmico, concluiu que a queima de pessoas como uma forma de punição é legalmente aceita.
De acordo com Raymond Ibrahim, a Fatwa que permitia a queima de pessoas foi retirada as pressas, logo depois que o piloto jordaniano foi queimado vivo pelo Estado Islâmico.
Em 2007, o Islam Web ganhou o World Summit Award, sendo considerado "o melhor site de educação interativa para crianças falantes de língua árabe, pelo consenso do júri, que se reuniu na Croácia, para avaliar as produções de 160 países."
Screenshot da Fatwa -- que usa os mesmos argumentos e fontes que o Estado Islâmico usou para justificar sua ação:
(a tradução abaixo)
Em 7 de fevereiro de 2006, o popular site árabe emitiu a Fatwa número 71480, intitulada "A queima de Ias bin Abdul Yalil por Abu Bakr." A fatwa, ou decreto islâmico, concluiu que a queima de pessoas como uma forma de punição é legalmente aceita.
De acordo com Raymond Ibrahim, a Fatwa que permitia a queima de pessoas foi retirada as pressas, logo depois que o piloto jordaniano foi queimado vivo pelo Estado Islâmico.
Em 2007, o Islam Web ganhou o World Summit Award, sendo considerado "o melhor site de educação interativa para crianças falantes de língua árabe, pelo consenso do júri, que se reuniu na Croácia, para avaliar as produções de 160 países."
Screenshot da Fatwa -- que usa os mesmos argumentos e fontes que o Estado Islâmico usou para justificar sua ação:
(a tradução abaixo)
A queima de Ias bin Abdul Yalil por Abu Bakr
Fatwa No. 71.480
Terça-feira 07/02/2006
Fatwa No. 71.480
Terça-feira 07/02/2006
[Pergunta]: Como conciliar a proibição da queima [de inimigos] pelo fogo feita pelo Profeta -- que a paz esteja sobre ele -- e a queima de Ias Abdul Yalil por Abu Bakr -- que Alá esteja satisfeito com ele -- durante a guerra de apostasia?
[Resposta]: Louvado seja Alá, que a paz e as bênçãos estejam sobre o Mensageiro de Alá, sua família e companheiros. Agora:
O fato de que o profeta -- que a paz esteja sobre ele -- proibiu a queima com fogo está documentada e declarada no seu santo hadith -- paz e bênçãos estejam sobre ele -- quando ele disse: "Ninguém pune com fogo, exceto o Senhor do fogo", Narrado por Abu Dawood e Ahmad em seu Musnad.
Os estudiosos divergem quanto a saber se essa proibição é para impedir ou apenas por humildade; Ibn Hajar disse em [seu livro] Fath Albari: "...al-Muhallab disse: Esta proibição não é para impedir, mas apenas por humildade, e a prova de que a queima é permitida está nos atos de companheiros do Profeta. O profeta -- que a paz esteja sobre ele -- queimou os olhos dos Oranyeen [de Orayna] com ferro quente [pregos]. E Abu Bakr queimou os agressores na presença dos companheiros; Khalid Bin al-Walid [comandante do exército muçulmano] queimou alguns apóstatas, e a maioria dos estudiosos de Medina [cidade do profeta] permitem que castelos e navios sejam queimados. Iste foi afirmado por Althawri e al-Awzaai. Ibn Munir e outros disseram: não há uma prova para a permissão, porque a história dos Oranyeen foi uma vingança, e no caso de castelos e navios é permitido por necessidade como condição, se for uma maneira de alcançar a vitória sobre o inimigo.
Quanto a história de Abu Bakr (que Alá esteja satisfeito com ele), a queima de Ias Abdul Yalil com o fogo está documentada nos livros de história. No livro (Alkamel): "Ias Abdul Yalil veio até Abu Bakr e disse a ele: me ajude a combater os apóstatas dando-me armas. Ele lhe deu armas e ordenou que seguisse as ordens; ele veio até os muçulmanos e até mesmo desceu para Aljoa, e enviou Nokhba bin Abi Almithae da [tribo] Bani Sharid e nomeou um Emir para os muçulmanos, em seguida ele atacou todo muçulmano das tribos de Salim, Amer e Hawazen. Abu Bakr (que Alá esteja satisfeito com ele) ouviu sobre isso, então ele mandou alguém para prendê-lo [Ias] e trazê-lo de volta. Abu Bakr ordenou que um fogo fosse aceso no tribunal de oração e, em seguida, ele atirou [Ias] nele [no fogo] com as mãos amarradas.
2 - O site Islam QA, supervisionado pelo xeique Muhammad Saalih al-Munajjid, um dos mais importantes clérigos wahhabi do mundo, responde ao questionamento de um fiel sobre a legalidade do uso de fogo como punição:
"Está provado nos textos que a punição de queimar com fogo é haraam.
[...]
Esta proibição de punir alguém queimando-o com fogo é geral em aplicação, mas a maioria dos estudiosos fez uma exceção no caso de queimar com fogo por meio de uma punição que seja retaliatória (qisaas), assim fazendo a punição ser condizente com o crime. Se alguém queima outra pessoa, então é permitido, de acordo com este ponto de vista, puni-lo queimando-o, por meio de punição de retaliação.
"Se vos atacarem em um mês sagrado, combatei-os no mesmo mês, e todas as profanações terão retribuição legal. A quem vos agredir, rechaçai-o da mesma forma; porém, temei a Alá e sabei que Ele está com os que O temem." (2:194 al-Baqarah)
[...]
Portanto, a maioria dos fuqaha (juristas, experts em jurisprudência) pensa que é permitido queimar com fogo por meio de punição de retaliação.
3 - O al-Eftaa wa al-Buhuth -- comitê do grupo terrorista responsável por fornecer decisões legais com base nos textos islâmicos -- publicou um documento justificando seus atos:
Pergunta: Qual é a decisão sobre a queima do kafir [descrente] com o fogo até que ele morra?
Resposta: [...] Os Hanafis e Shafi'is permitiram, considerando o dito do Profeta "fogo só deve ser usado como punição por Alá" como uma afirmação de humildade. Al-Muhallab disse: "Esta não é uma proibição absoluta, e sim no caminho da humildade."
Al-Hafiz ibn Hajar disse: "O que aponta para a permissibilidade de queimar com fogo são as ações dos companheiros; e o profeta queimou os olhos dos Uraynians com ferro quente... enquanto Khaled ibn al-Walid queimou aqueles que cometeram apostasia (que deixaram o Islã)".
E alguns dos Ahl al-'Ilm defendiam que queimar com fogo era inicialmente proibido, mas que em retaliação é permitido, assim como o profeta fez ao povo de Urayna, quando ele queimou os olhos dos Uraynians com fogo - em retaliação - como é relatado na tradição Sahih [de confiança]
[...]
Fontes mencionadas pelo Estado Islâmico:
Sahih Bukhari, Volume 4, Livro 52, Número 260:
Sahih Bukhari, Volume 4, Livro 52, Número 260:
Narrou Ikrima: Ali havia queimado algumas pessoas e esta notícia chegou a Ibn 'Abbas, que disse: "Se eu estivesse no seu lugar eu não teria os queimado, pois como o Profeta disse: "Não puna (ninguém) com a punição de Alá." Sem dúvida, eu teria os matado, pois o Profeta disse: "Se alguém (um muçulmano) descarta sua religião, mate-o."
Sahih Bukhari, Volume 4, Livro 52, Número 261:
Narrou Anas bin Malik: Um grupo de oito homens da tribo de 'Ukil veio ao profeta e, em seguida, eles encontraram o clima de Medina inadequado para eles. Então, eles disseram: "Ó apóstolo de Alá! Deixe-nos com um pouco de leite." O apóstolo de Alá disse: "Eu recomendo que vocês devem se juntar a manada de camelos". Então eles foram e beberam urina e leite dos camelos (como um medicamento), até que se tornaram saudáveis e gordos. Em seguida, eles mataram o pastor e afugentaram os camelos, e eles se tornaram descrentes, já que eles eram muçulmanos. Quando o Profeta foi informado por um pedido de socorro, ele enviou alguns homens em sua busca, e antes que o sol se levantou alto eles foram trazidos, e eles tiveram suas mãos e pés cortados. Então ele ordenou que pregos fossem aquecidos e fossem passados por cima de seus olhos, e eles foram deixadas na Harra (isto é, na terra rochosa em Medina). Eles pediram por água, e ninguém lhes forneceu água, até que eles morreram (Abu Qilaba, um sub-narrador disse: "Eles cometeram assassinato e roubo e lutaram contra Alá e Seu Apóstolo, e espalharam o mal na terra.")
Livro "O início e o fim", de Ibn Kathir:
al-bidaya we al-nihaya البداية والنهاية
فضرب عنقه ، وأمر برأسه فجعل مع حجرين ، وطبخ على الثلاثة قدرا ، فأكل منها خالد تلك الليلة ليرهب بذلك الأعراب من المرتدة وغيرهم. ويقال : إن شعر مالك جعلت النار تعمل فيه إلى أن نضج لحم القدر ، ولم يفرغ الشعر لكثرته .
Khaled bin al-Walid (um dos companheiros de Maomé, conhecido como a "Espada de Alá") matou um homem chamado Malik bin Nuwayra após acusá-lo de ser um apóstata -- a pena para quem deixa o Islã é a morte. Depois disso ele estuprou Leila, a viúva, e a tomou como esposa.
No trecho em árabe que está acima, Ibn Kathir relata o que Khaled fez depois depois matar Malik e antes de estuprar sua viúva: colocou a cabeça decepada de Malik bin Nuwayra junto com duas pedras, acendeu o fogo e cozinhou sua refeição sobre ela. Ele continua seu relato afirmando que "Khaled comeu dali naquela noite para aterrorizar as tribos árabes/beduínas apóstatas. E foi dito que o cabelo de Malik criou tal chama que a carne foi muito bem cozida".
No trecho em árabe que está acima, Ibn Kathir relata o que Khaled fez depois depois matar Malik e antes de estuprar sua viúva: colocou a cabeça decepada de Malik bin Nuwayra junto com duas pedras, acendeu o fogo e cozinhou sua refeição sobre ela. Ele continua seu relato afirmando que "Khaled comeu dali naquela noite para aterrorizar as tribos árabes/beduínas apóstatas. E foi dito que o cabelo de Malik criou tal chama que a carne foi muito bem cozida".
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